09 julho 2015

Dalva de Oliveira



No dia 5 de maio de 1917, nascia em Rio Claro, no interior de São Paulo, Vicentina de Paula Oliveira. Seu pai, Mário Antônio de Oliveira, era carpinteiro e, a bem da verdade, esperava para primogênito um menino, Vicente. Sua mãe, Alice do Espírito Santo Oliveira, nascida em Portugal e naturalizada brasileira, ajudava no orçamento da família, fazendo salgados para um bar vizinho.

Além dela, os pais tiveram mais três meninas (Nair, Margarida e Lila) e um menino que nasceu com problemas de saúde e morreu ainda criança. Seu pai, que era conhecido na cidade pelo apelido de Mário Carioca, era marceneiro e músico nas horas vagas (tocava clarinete). Costumava realizar serenatas com seus amigos músicos, chegando a organizar um conjunto para tocar em festas. A pequena Vicentina gostava de acompanhá-lo nessas serenatas. Viviam de forma bastante modesta e quando ela tinha apenas oito anos, sofreram um duro golpe familiar: Mário faleceu, deixando a esposa com quatro filhos para criar. Dona Alice resolveu, então, tentar a vida na capital paulista, onde arrumou emprego de governanta. Conseguiu vaga para as três filhas em um internato de irmãs de caridade, o Internato Tamandaré, onde Vicentina chegou a ter aulas de piano, órgão e canto. A menina ficou lá por três anos, até ser obrigada a sair, devido uma séria infecção nos olhos. Nessa ocasião, a mãe perdeu o emprego, pois os patrões não aceitaram a presença da menina. Dona Alice conseguiu emprego de copeira em um hotel e Vicentina passou a ajudá-la. Trabalhou então como arrumadeira, como babá e ajudante de cozinha em restaurantes. Depois, conseguiu um emprego de faxineira em uma escola de dança onde havia um piano.

1934
Transferiram-se para o Rio de Janeiro, onde foram morar à Rua Senador Pompeu, numa "cabeça-de-porco", segundo a própria cantora. Nessa época, a família já estava novamente reunida (as irmãs voltaram a morar com a mãe).

1937
Casou-se com Herivelto Martins, com quem teve seus dois filhos, Pery e Ubiratã: o primeiro tornou-se cantor (é o conhecido Pery Ribeiro); o segundo trabalha em televisão (foi "camera man" e depois produtor de programas televisivos, como o "Fantástico", da TV Globo).



Uma das grandes estrelas dos anos 40 e 50. Dona de uma poderosa voz, cuja extensão ia do contralto ao soprano, marcou época como intérprete. Iniciou sua carreira em São Paulo. Depois de terminar o serviço de faxina do salão de danças em que trabalhava, costumava cantar algumas músicas, tentando tirar melodias ao piano. Um dia, foi ouvida pelo maestro pianista, que a convidou para cantar numa "troupe", chefiada por Antônio Zovetti. "Era um cirquinho de tablado", segundo depoimento da cantora, que correu várias cidades de São Paulo, até chegar a Belo Horizonte (MG).

Sua participação acontecia nos intervalos dos espetáculos, quando era anunciada como "A menina prodígio da voz de ouro". Sua mãe foi junto, a convite do próprio empresário. Foi nessa época que passou a usar o nome de Dalva, sugerido pela mãe, pois Zovetti achava que seu nome não era bom para uma cantora.

Assim, passaram a anunciá-la como a "doçura de voz da menina prodígio: a estrela Dalva!" Em Belo Horizonte aconselharam-na a fazer um teste na Rádio Mineira. Foi aprovada, mas, com a dissolução do Circo Damasco, voltaram a São Paulo. O maestro aconselhou sua mãe a ir para o Rio de Janeiro, dizendo que a menina tinha futuro e que na Capital Federal teria mais chances. Lá, Dalva empregou-se como costureira numa fábrica de chinelos, da qual um dos proprietários (Milton Guita, conhecido como Milonguita) era diretor da Rádio Ipanema (atual Mauá).

Dalva gostava de cantar enquanto trabalhava e Milonguita um dia a ouviu. Convidou-a, então, para um teste na Rádio Ipanema. Foi aprovada e logo depois transferiu-se para as Rádios Sociedade e Cruzeiro do Sul, onde cantou ao lado de Noel Rosa. Depois, passou pela Rádio Philips e finalmente conseguiu trabalho na Rádio Mayrink Veiga. Na época, Adhemar, diretor da rádio, levou-a para conhecer o maestro Gambardella, que apesar de achar que ela possuía potencial para tornar-se uma cantora lírica, aconselhou-a a manter-se como cantora popular. O maestro sabia que uma moça pobre dificilmente poderia seguir uma carreira que carecia de recursos e não tinha muito futuro no Brasil. Era carreira para quem havia nascido rica. Assim, sugeriu que ela utilizasse sua voz para o canto popular.

Nessa época, foi chamada para trabalhar no teatro com Jayme Costa, fazendo pontas em operetas no Teatro Glória. Trabalhou na temporada popular da Casa de Caboclo, do Teatro Fênix, onde atuou ao lado de Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho, Ema D'Ávila, Diamantina Gomes e Antônio Marzullo. No mesmo período, trabalhou na Cancela, em São Cristóvão, num teatro regional onde ela apresentava números imitando a atriz Dorothy Lamour. Foi lá que conheceu Herivelto Martins,que atuava com o parceiro Nilo Chagas, formando a Dupla Preto e Branco. Ali, Dalva fez os primeiros números com a dupla. Logo depois, Herivelto foi contratado para trabalhar no Teatro Fênix, de Pascoal Segreto, e propôs a Dalva que ela viesse cantar com ele e Nilo, formando então um trio. Começaram então um namoro. No início o trio chamava-se Dalva de Oliveira e a Dupla Preto e Branco.

Foi César Ladeira que sugeriu que trocassem o nome para Trio de Ouro. Foram então contratados pela Rádio Mayrink Veiga e gravaram o primeiro disco em 1937, na RCA Victor, com as músicas Itaguaí e Ceci e Peri, ambas de autoria de Príncipe Pretinho. Na época em que gravaram o disco, Dalva estava esperando seu primeiro filho,e o público escrevia pedindo que, se fosse um menino, eles o batizassem de Pery, e, se fosse menina, Ceci. Foi o que aconteceu quando Dalva deu à luz ao futuro cantor Pery Ribeiro.

1938
Transferiram-se para a Rádio Tupi e para a gravadora Odeon. Seus maiores sucessos com o Trio de Ouro foram os sambas Praça Onze, de Herivelto Martins e Grande Otelo, e Ave-Maria no morro, de Herivelto, gravados em 1942, o primeiro com o Trio acompanhando Castro Barbosa.

1943
Gravaram com sucesso Laurindo, um samba de Herivelto. Na decada de 1940 atuaram no Cassino da Urca e no Cassino Icaraí.

1944
Participou do filme "Berlim na batucada", de Luís de Barros.

1945
Gravou na Continental, com Carlos Galhardo e Os Trovadores, a adaptação de João de Barro para a história Branca de Neve e os Sete Anões, com músicas de Radamés Gnattali.

1946
Participou do filme "Caídos do céu", de luís Barros.

1947
Dalva e Herivelto separaram-se, iniciando uma batalha de ofensas mútuas muito explorada pela imprensa da época mas somente dois anos depois, quando fizeram excursão à Venezuela com a Companhia de Derci Gonçalves, o trio se desfez. Dalva ainda ficou naquele país, apresentando-se com o maestro Vicente Paiva, por mais um ano.

1949
Casou-se com o argentino Tito Clement, adotando uma menina, Dalva Lúcia. Foi morar com ele em Buenos Aires.

1950
Retornou ao Brasil, quando a gravadora Odeon a rejeitou, pois os produtores não acreditavam em sua carreira solo. Foi Vicente Paiva, na época um dos diretores artísticos da gravadora, que lhe deu seu aval, dizendo que se o samba Tudo acabado não estourasse, ele se demitiria. O samba, de fato, foi um grande sucesso na voz de Dalva, inaugurando uma duradoura batalha musical entre ela e Herivelto, que usavam a música para se acusarem mutuamente pelo fracasso do casamento. Nessa polêmica musical destacaram-se, além de Tudo acabado, Que será e Errei sim, ambas gravadas em 1950.

1951
Vieram outros sucessos com o samba-canção Ave-Maria, de Vicente Paiva e Jaime Redondo, e a marcha Zum-zum, de Paulo Soledade e Fernando Lobo. Nessa época, fez várias excursões ao exterior, apresentando-se no Uruguai, Argentina, Chile e na Inglaterra. Em Londres, cantou na festa de coroação da Rainha Elizabeth II, no Hotel Savoy, acompanhada pelo maestro Robert Inglis.

1952
Esse repertório foi gravado em Londres, nos estúdios da Parlophone, com o maestro Inglis e sua orquestra. O nome de Inglis foi aportuguesado para Inglês, a fim de facilitar sua comercialização no Brasil. No elepê, eles recriaram clássicos brasileiros como: Tico-tico no fubá, Aquarela do Brasil,Bem-te-vi atrevido e Na Baixa do Sapateiro, além de vários outros sucessos de Dalva. Apesar de estilizar os sambas e choros num ritmo que está mais para o mambo, ou outros ritmos latinos, o elepê de Dalva de Oliveira com Roberto Inglês pode ser visto como um difusor da MPB no mundo segundo Tárik de Souza. Ainda em 1952, lançou novos sucessos:Kalu, um baião de Humberto Teixeira, e Fim de comédia, samba de Ataulfo Alves. Naquele ano, foi eleita Rainha do Rádio e excursionou pela Argentina, apresentando-se na Rádio El Mundo, de Buenos Aires. Foi nessa ocasião que conheceu o empresário Tito Clemente, seu futuro marido. Participou de outros filmes, ainda na década de 50: "Maria da praia", de Paulo Wanderley; "Milagre de amor" e "Tudo azul", ambos de Moacir Fenelon.

1963
Dalva e Tito Clement separaram-se e depois ela casou-se com Manuel Nuno Carpinteiro.

1965
Sofreu grave acidente automobilístico, sendo obrigada a abandonar a carreira por alguns anos.

1970
Retornou, lançando um dos grandes sucessos do ano e também seu último:Bandeira branca, marcha-rancho de Max Nunes e Laércio Alves. No início dos anos 70, morava em uma confortável casa no bairro carioca de Jacarepaguá.

1971
Apresentou-se no Teatro Tereza Raquel no Rio de Janeiro. No fim da carreira, apresentou-se em vários programas de televisão e em shows.

1972
Faleceu vítima de hemorragia no esôfago.




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