Abre neste sábado, 28 de fevereiro, no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, a exposição Rio: primeiras poses – Visões da cidade a partir da chegada da fotografia (1840-1930), como parte da programação especial dedicada aos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.
Copacabana, atual Posto 6, com o Morro Dois Irmãos ao fundo, c. 1895. Detalhe de foto de Marc Ferrez / acervo IMS
A exposição percorre nove décadas de produção fotográfica no Rio de Janeiro, com fotografias que documentam a cidade no Império, em especial durante o Segundo Reinado de d. Pedro II, e as primeiras quatro décadas da República.
Estarão expostas 450 imagens de fotógrafos como Abraham-Louis Buvelot, Georges Leuzinger, Victor Frond, Augusto Stahl, Revert Henri Klumb, Albert Henschel, Marc Ferrez, Joaquim Insley Pacheco, Hubner e Amaral, Carlos Bippus, Lopes, José dos Santos Affonso, Thiele, W. Kollien, Augusto Malta e Guilherme Santos, todas pertencentes ao acervo do IMS e escolhidas entre cerca de 10 mil imagens desse período.
A mostra inaugura o uso intensivo da Galeria Marc Ferrez, no IMS-RJ, para mostras permanentes de acervo. Muitas das imagens que serão apresentadas nesta exposição nunca foram exibidas antes. Junto com a exposição Um passeio pelo Rio – A cidade nas andanças de Joaquim Manuel de Macedo, a nova mostra compõe as homenagens do Instituto Moreira Salles aos 450 anos do Rio de Janeiro.
Organizada em seis ambientes dispostos em ordem cronológica, a exposição apresentará cerca de 250 fotografias originais, nas paredes e em vitrines, e mais três conjuntos de imagens em estruturas multimídia: espaço de projeção em 2,20 x 9 m, dois mapas interativos comandados por telas touchscreen e dois monitores com 75 fotos estereoscópicas cada, com visualização em 3D. As imagens digitalizadas e as ferramentas de visualização com magnificação oferecerão ao visitante a possibilidade de enxergar detalhes nas fotografias que não seriam facilmente vistos nos originais.
O primeiro núcleo mostra os primeiros processos fotográficos iniciais realizados no Rio de Janeiro, que conheceu a fotografia por meio da daguerreotipia, já em janeiro de 1840. Os retratos de estúdio em daguerreótipo predominam neste período.
Dois ambientes dedicados ao período que vai da década de 1850 à década de 1890, com fotos de Stahl, Leuzinger, Klumb, Frond e Ferrez, revelam a memória de uma paisagem urbana e traços de uma arquitetura estruturada ainda no período colonial e desenvolvida com maior intensidade depois da chegada da família real portuguesa em 1808. Nos demais ambientes, a exposição apresenta imagens que mostram as mudanças e reformas urbanas promovidas no início do século XX, em particular durante a administração Pereira Passos (1902-1906), com a construção da avenida Central, a inauguração da avenida Beira-Mar em direção à Glória, ao Catete, ao Flamengo e a Botafogo e a obras de melhoramento do porto do Rio de Janeiro e do canal do Mangue, entre outras. Essas ações foram registradas em particular por Augusto Malta, fotógrafo a serviço da prefeitura e de empresas como a Light, que incorpora em suas imagens tanto a cidade como sua população durante a transformação radical do “bota-abaixo” representado pela abertura da avenida Central e a posterior remoção do morro do Castelo.
Marc Ferrez, único entre os fotógrafos reunidos na mostra a atravessar os dois séculos, realiza sua grande e última obra com o Álbum da avenida Central, que estará destacado em um dos núcleos da exposição. Ferrez e Malta construiriam, com seus trabalhos, o principal legado da fotografia para a memória da cidade na passagem do século XIX para o XX.
Os principais avanços tecnológicos do período, como o transporte urbano e a iluminação pública, o automóvel, o início da aviação, a mudança na relação das pessoas com a própria imagem fotográfica, também estarão presentes nas imagens da mostra, assim como a redescoberta da fotografia estereoscópica entre amadores e profissionais, o que se vê no trabalho de Guilherme Santos, e retratos de personalidades da vida da cidade, como d. Pedro II, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Machado de Assis, Pereira Passos, Ernesto Nazareth, entre outros.
A exposição segue até a década de 1930 que, com o fim da velha República, inaugura o período de modernidade, de industrialização e de urbanização que levariam a cidade a ser o que é hoje. Assim, a mostra antecipa as transformações que as próximas décadas trariam, como o crescimento da cidade em direção à zona Sul e às praias, que precedeu a expansão em direção à zona Oeste (Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Santa Cruz). Imagens de Copacabana e Ipanema, entre 1900 e 1930, revelam os primeiros movimentos em direção à construção de uma nova cultura na cidade associada às praias oceânicas, que tanto marcaria a vida dos moradores do Rio ao longo do século XX.
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